Roger está dirigindo e gritando a músicas do primeiro álbum do System Of A Down. Grita tanto que a garganta dói. Logo que chega em casa, Johnny insiste para que Roger vá ao banheiro procurar pústulas, pois, de fato, há uma dor incômoda e não fatal (e essa não interessa para nenhum dos dois). Enquanto Roger está no banheiro, Johnny esconde as chaves do carro.
Lá pelas três da manhã, Roger começa o ataque rotineiro. "Vou comprar cigarros. Vamo." "Não precisa, já comprei. Tá aqui." Johnny tira do bolso da jaqueta um Lucky Strike mentolado. "Que porra de cigarro fresco é esse? Se eu quisesse sabor de menta, comprava um chiclete! Quem mandou você comprar essa merda? Quem mandou você sequer encostar nessa merda?" Roger se prepara para ataques físicos em Johnny, mas ele já fugiu. Johnny é profissional na arte da fuga. Roger procura as chaves do carro no lugar de sempre, na mesa ao lado da porta, mas não há nada lá. "JOHN SEU FILHA DE UMA PUTA, CADÊ A MERDA DA CHAVE DA PORRA DO CARRO??" Johnny já não está ao alcance da voz de Roger.
Roger vai até a garagem e tenta abrir as portas do carro, que começa a apitar e a acender. Roger se lembra de uma bicicleta que Johnny às vezes usava para ir ao mercado, e, acendendo um cigarro, sai pedalando. Sem música. Ouve o silêncio do bairro onde moram. Procura por qualquer alma viva e não vê nada. Roger chora. Dessa vez, não bota a culpa na fumaça. Ninguém está vendo. Quando ninguém assiste, os motivos não importam. Roger aprecia o sabor de menta e cogita agradecer a Johnny quando chega ao pé de uma subida. "Porra. Vou ter que subir." Johnny diz "Pelo menos na volta vai ter descida." "Não pretendo voltar." "Aham". Johnny não está lá. Uma viatura passa e os policiais ficam encarando Roger, mas ao notarem as lágrimas e, principalmente, o formato industrializado daquilo que Roger fuma, eles se vão.
Roger sente uma vontade insaciável de sexo, pára em uma praça e pensa em se masturbar. O passado ia achar excitante a idéia de fazer sexo na praça. Ele começa a mexer nas calças quando Johnny chega. Quase ao mesmo tempo, a viatura volta. Dessa vez ela pára e dois policiais descem.
- Põe as mãos na mesa. - Há uma mesa para velhos jogarem xadrez na praça, e logo após a ordem, Roger e Johnny colocam as mãos sobre a mesa.
- Pois não, policial?
- O que você tá fazendo aqui?
- Só fumando um cigarro.
- Só cigarro? - O policial começa uma revista.
- Sim, só cigarro.
- Certo. - diz um dos policiais, sem achar nada na revista. - E os documentos?
- Estão em casa... me desculpe policial, moro logo ali. Se o senhor quiser, podemos ir até minha casa, eu pego os documentos. Se o senhor aceitar, posso oferecer um café?
- Cala a boca. Pode ir. Se eu te ver de novo sem documentos, aí a gente vai engrossar.
- Sim senhr. Boa noite e bom trabalho pra vocês aí..
- Ok. Circulando amigo.
- Sim, sim...
Roger sobe na bicicleta e acende outro cigarro. Johnny vai a pé, acompanhando a bicicleta. Os dois vão em silêncio até em casa, onde encontram o carro ainda piscando (mas não apitando). Johnny entra em casa e se senta no sofá. Roger vai para a sacada terminar o maço. "Valeu pelo cigarro. Mas eu preferia ter ido de carro buscar." "E pela calma com o policial? Não vai me agradecer?" "Não mesmo. Aquela calma toda foi desnecessária. Eu não tava fazendo nada de errado!" "Por pouco." "Se ela estivesse comigo, você ia gostar." Johnny tem um ataque de choro, Roger o ajeita no sofá, com as almofadas e um cobertor que estava por ali, e Johnny acaba dormindo. Assim que Roger se nota sozinho novamente, chora. Dessa vez, por causa da fumaça.
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