A história, conforme ela acontece.
Assim sendo, deve ser lido a partir do texto mais antigo, aqui.


***

011

Eles sonharam com ela.
Ela os evitava, não queria os encontrar.
Johnny tinha ataques, por um momento, preferiu ela quando morta.
Ela tinha medo das risadas de Roger.
"Tenho medo quando você ri assim", ela dizia.
Afinal, ela admitiu que deveria vê-los.
"A gente deveria se ver, né?"
Ela ainda estava brigada com a mãe.
Eles não se lembram de terem a visto, apenas de terem falado com ela.
Ela dizia estar cansada, que essa coisa de ter ficado morta dava sono.
Ela dizia que nao ia vê-los, pois era pra eles se decidirem entre ficar ou sumir
E eles disseram que não iam mais sumir. Nunca mais.
Ela disse, "Amanhã nos vemos então".
E eles disseram, "Estou indo praí agora".
E ela disse, "Preciso dormir".
E eles disseram, "Precisamos ver você dormir".
Eles estavam em uma cidade que nunca viram.
Eles estavam andando de ônibus circular.
"Eu fiquei te idealizando quando você tava morta, esqueci de como você era de verdade", Johnny dizia, sem motivos.
"Você sabe que ninguém nessa terra te ama mais do que a sua mãe, né?"
"Sei", ela disse.
"Talvez nós."
Johnny dizia.
Pierre me olhava com pouco caso, mas sabia que era verdade para o tipo de amor que Johnny amava.
E no meio do sonho, eles se pegaram pensando
"Será que ela ligou praquele cara de São Paulo?"
"Será que ela avisou todo mundo que tá viva?"
"Será que é legal se fingir de morto por um mês só pra todo mundo descobrir a falta que eu vou fazer?"
Ela não disse como estava viva.
Eles não perguntaram.
Não importava.
O resto do sonho se perdeu, como todos os sonhos se perdem de manhã.

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