Johnny reclama, novamente e inutilmente, sobre o novo vício de Roger. Ele não pára. A cabeça de Johnny não pára de pensar sobre o passado e Roger tenta preencher o vazio que sente com fumaça. Não adianta, Johnny sabe e por isso reclama. Por isso e pelo novo cheiro que ele mesmo acabou adquirindo. Johnny sente que sua metade de sua alma se foi. Roger sente que nunca teve alma. Quando o passado ainda era presente, ela disse que Roger se comportasse. E Johnny se intrometeu na conversa dizendo "Nem eu vou me comportar.". E quando o passado era passado mas nenhum dos dois sabia, Roger xingava o passado pelo atraso. Xingava e dizia que só perdoaria se houvesse uma morte no meio. E Johnny, como sempre, continuava esperando, feliz. Roger xingava e Johnny esperava. É a descrição básica dos dois. Hoje, com o passado no devido lugar, os dois xingam e esperam. Os dois choram e riem descontroladamente em momentos específicos. Muitas vezes, um ri enquanto o outro chora. Quando acontece de os dois chorarem é o momento que as coisas mais perigam sair de controle. É nessas horas que eles quase alcançam o passado. Se estão dirigindo, eles passam a milímetros do passado. E assim eles estão tentando viver, procurando o passado em todo poste que passa. Procurando o passado em todo pontilhão, em todos os caminhões parados nos acostamentos. Em todas as fugas que qualquer um dos dois consegue imaginar. Johnny, apesar de reclamar do cigarro, algumas vezes acaba aproveitando da quase calma que este traz. Nos momentos de totura, quando Roger precisa de apoio físico para permanecer em pé, Johnny pára de pensar no passado e pensa no estado em que chegaram. No presente. Não que haja felicidade nesse momento, mas é o momento mais próximo de alegria que qualquer um dos dois conseguem chegar.
As letras se embaralham nos livros que lêem, as músicas se embaralham e ganham novos sentidos melancólicos, sentidos nunca imaginados ou vistos por nenhum dos dois. Nem por Johnny em suas melhores epifanias. Nem por Roger em suas piores crises. Normalmente vinham juntas. As crises e as epifanias. Em vários momentos, as epifanias serviam como alívio para as crises. Roger sempre concordava mentalmente com tudo que Johnny escrevia, mas nunca dizia nada. Johnny não gostava de ler o que escrevia, para não reviver as crises que geravam aqueles textos.
Johnny queria se matar, mas nunca faria nada. Roger não queria se matar, mas estava disposto a fazer qualquer coisa para se livrar da dor.
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