A história, conforme ela acontece.
Assim sendo, deve ser lido a partir do texto mais antigo, aqui.


***

012

Roger está dirigindo. Ele sente o vento batendo em seu rosto. Não o vento direto, o vento se debate nas entranhas do motor antes de sair pelas saídas de ar do painel, mas a força, mesmo diminuta, dá uma sensação de velocidade.
Johnny está sentado e apenas observa.
Roger diz "Quantos postes faltam para cehgar naquele que vai nos matar?"
Johnny silencia.
Roger diz "Cinco?", e um poste passa.
Johnny solta a cinto de segurança.
Roger diz "Quatro?", e um poste passa.
Johnny se segura na beirada do assento.
Roger diz "Três?", e um poste passa.
Johnny tem os olhos molhados.
Roger diz "Dois?", e um poste passa.
Johnny olha dois postes a frente. O tempo subitamente fica mais lento.
Roger diz "Um?", enquanto Johnny lê no próximo poste "Trago a pessoa amada em três dias"
Johnny vê o poste cada vez mais próximo.
Pedaços do carro voam enquanto Johnny lê o cartaz.
Tudo vira de pernas pro ar, e o Johnny vê as coisas girando em várias direções. Pedaços de vidro forram o chão onde o corpo de Roger se arrasta. Johnny sente os cacos de vidro. Johnny sente o poste pendendo para um lado, sendo segurado apenas pelos fios. Uma linda explosão elétrica e o poste começa a cair. Johnny vê o corpo de Roger, inerte, surrado pelo asfalto. O carro ficou no que antes era o poste. Johnny sente gosto de ferro na boca e olha para suas pernas. A perna esquerda está dobrada de uma forma inata. Johnny vê os fios do poste caindo com a velocidade de uma pena. Os fios estalam e chicoteiam, em câmera lenta. O som do carro ainda toca o Requiem Polonês de Penderecki. Os fios chegam ao chão, o mesmo chão que Johnny está. Johnny sente uma corrente passando por seu corpo. Sente cheiro de pele queimada. Tudo em seu corpo treme, exceto a perna esquerda.
Roger se levanta com toda a calma de Johnny, dá um sorriso digno daquelas crianças más dos filmes de terror e diz, com a voz do passado "Você não vai me encontrar."
Johnny acorda. Roger está dormindo com um cigarro nos dedos. A cinza pende do cigarro lembra um pênis meia bomba. Johnny nota uma queimadura nos dedos de Roger, graças ao cigarro. Johnny nota agora. Estava sonhando. Johnny respira fundo e dá um soco em Roger. Este acorda surpreso.
"Você me deu um soco?"
"Sim, o que tem? Você sempre dá socos por aí.."
"Você me deu um soco!" - Roger está quase sorrindo.
"Sim. Vamos sair de carro."
"Não!"
"Por quê?"
"Por que você me deu um soco! Vai saber o que mais você vai fazer!"
"Contagem de postes."
"Ahm?"
"Nada. Volte a dormir."
Roger joga a bituca que estava em seus dedos fora, e dorme enquanto diz "Já voltei."
Johnny se deita na cama e enche suas cavidades oculares de lágrimas, até tudo estar tão embaçado, que o escuro do sono chega.

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